Resenha: A história do futuro de Glory O' Brien

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Quando Glory tinha quatro anos a mãe dela colocou a cabeça dentro do forno, ligou o gás e se matou. Desde então, Glory vem sendo criada pelo pai, mas nunca deixa de pensar em sua mãe que vive até hoje em sua casa, seja nas fotografias que ela tirava ou no espaço do forno que continua na cozinha. Ela é uma garota diferente dos outros jovens de sua idade, não tem grandes ambições para o futuro como a maioria das pessoas têm. A menina herdou de sua mãe o amor pela fotografia e se interessa pelo assunto da morte, já que nunca parou de se perguntar se seguiria o mesmo caminho de Darla.

“A foto se parecia comigo, morta. Eu me interessava pela morte do jeito que Ellie se interessava por sexo. Acho que quanto menos os adultos falavam com a gente sobre as coisas, mais queríamos saber a respeito delas.” página 22

Apesar de ser uma garota sem muitos planos para o futuro, sobre o que fazer depois da faculdade, Glory O' Brien é uma menina esperta e forte. Ela está repleta de incertezas, e não quer ser vista apenas como a menina que perdeu a mãe quando era criança.  Após o suicídio de Darla, o pai de Glory virou obeso e deixou a pintura de lado, o que era seu emprego e sua grande paixão, e passa a trabalhar em casa ajudando as pessoas online.

Glory está no fim do ensino médio e tem uma única amiga. Ellie tem uma criação diferente das demais meninas, ao invés de estudar na escola ela estuda em casa, mora em uma comunidade hippie e desempenha funções na comunidade desde cedo. Mas essas diferenças não impediam a cumplicidade que Glory e Ellie tinham desde crianças.



Até que em uma noite aconteceu algo muito estranho: Glory e sua melhor amiga tomam algo curioso e começam a enxergar o passado e o futuro das pessoas. O que pode ser bastante revelador, trazendo informações que podem modificar suas vidas e das pessoas ao redor.

“O que me diferenciava é que eu podia ver a infinitude das pessoas. O que me diferenciava é que eu tinha bebido Deus e me tornado Deus. Ou bebido um morcego e me tornado um morcego. Você decide. O que me diferenciava é que eu não podia olhá-lo nos olhos e ver apenas ele.
 Em vez disso, eu via tudo.” Página 154

A narrativa do livro é em primeira pessoa e é voltada principalmente em Glory buscando descobrir o motivo que Darla o' Brien tirou a sua própria vida. Sobre querer saber o passado de sua mãe, conhecer um pouco mais da vida dela e tentar entender o que a levou a cometer suicídio deixando toda a sua vida, filha e marido para trás. Sobre uma filha que busca preencher lacunas que ficaram após perder alguém tão especial e em busca de uma resposta sobre o que fazer no futuro.

Ler sobre suicídio é algo profundo que gera sobre nós uma reflexão e nos deixa pensativos. Ler sobre suicídio e como uma filha vai tentando aos poucos descobrir os motivos que levou sua mãe a tirar a própria vida é de certa forma angustiante. Você acaba imaginando como seria estar na pele de Glory e estar passando por tudo aquilo. O suicídio nessa narrativa não é romantizado, entretanto, não é escancarado. O leitor não leva um impacto de cara ao ler, mas a cada página ele acaba se sentindo parte da história, como se de certa maneira estivesse juntamente com Glory descobrindo aos poucos o que motivou cada situação. É triste, mas ao mesmo tempo reconfortante.

“Olhei novamente para Bill e compreendi a verdade. Suicídio não é algo que as pessoas fazem para machucar outras pessoas. É algo que as pessoas fazem para se libertar da dor. Meu choro durou um período impossível de tempo. Ele continuou pela eternidade...” pagina 117




Ler outra obra de A.S King me fez perceber a delicadeza que ela tem ao tratar de assuntos tão importantes. Ao ler todo mundo vê formigas pude conhecer o modo como ela trazia metáforas para exemplificar como alguém que sofria esse tipo de agressão. Quando terminei de ler A história do futuro de Glory O' Brien reconheci novamente esse tipo de condução literária, que traz para um público mais jovem uma outra maneira de conhecer e entender assuntos tão significativos, mas que são pouco discutidos.

“Por que as pessoas tiram fotos? Para tornar as coisas reais.
Ou mais reais.
Algo palpável.
Para ter lembranças das coisas que perderam.
Para lembrar -  mesmo que às vezes queiram esquecer.”

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